-Alô Gugu, isso são horas? - mas que horas eram aquelas? Eu não sabia bem.
- Uaah, Gian! A gente ta aqui na frente. Tá?
- Mas..?! Tá...
Desliguei e logo olhei o relógio. “02:33”. Levantei e vesti o casaco. O rádio mostrava que o cd do Maná tinha há muito parado de tocar, deixando a luz vermelha da última faixa iluminando o quarto. Desliguei também o rádio, coloquei os chinelos de pano e fui para frente de casa. Só os bruxos pra fazer uma coisa como aquelas! Abri a porta de ferro e vi o Fiesta parado em frente ao portão, de um lado a silhueta do Gugu, do outro, a do Rato, e esse conversava com um terceiro que estava ainda sentado dentro do carro. Sorri e disse:
- “Fala pra mim que você não fez isso”...
- Gian, tira essa roupa e vamo no Rock! - Os olhos ainda estavam sonolentos, o frio subia sorrateiro pelas minhas pernas, e alguma coisa no meu cérebro avisava qualquer coisa sobre uma prova de vestibular que eu faria amanhã. Não... hoje! Fiquei pensando um pouco, olhei para os próprios pés e esfreguei os olhos.
- Ta, já venho aí...
Quando fui lavar o rosto para sair, sem querer deixei entrar sabão nos olhos. Ardeu.
E então voltamos.
No portão de casa, despedi-me dos bruxos e, assim que fechei a porta, senti uma necessidade de evacuar. No caminho até o banheiro, fui abrindo o cinto com certa dificuldade. Levantei a tampa e sentei no assento gelado, mas não senti tanto impacto, eu tinha bastante caipirinha no corpo. Fiquei muito tempo ali sentado, com os cotovelos apoiados nos joelhos e a mente voando longe, até que me ocorreu que aquela vontade não passara de um alarme falso. Passei o papel à guisa de conferência, só pra ter certeza. Feito isso, levantei contente e fui para frente do espelho da pia, pegando já minha escova de dentes. Meu sorriso refletido mostrava que eu estava pleno de alma.
De repente, parei com a escova nas mãos, fitando meus olhos azuis no espelho. Eu não sorria mais, acabava de me dar um branco. Não conseguia lembrar do que se passou em minha mente desde o momento em que sentei na privada até ali. Foi como se eu tivesse pulado aquela porção do tempo, embora eu tivesse a certeza de que eu vivera aqueles momentos e tivera pensamentos realmente felizes. E agora não conseguia recordar. Perguntando a mim mesmo no espelho o que havia acontecido nos porões da minha mente, não obtive resposta. Contudo eu tinha certeza que até mesmo o sentido da vida eu tinha descoberto. E agora estava tudo perdido, naquela breve página branca do livro da minha vida.
3 comentários:
caaaaaara, eu ri muito alto com aquele primeiro diálogo!
adoro te acordar de madrugada, amigão!
aaaahhhhhhh esse dia foi muito tri!
e eu já tive dessas também, mais de uma... é uma merda por que tu tem a certeza de que era um troço muito incrível, mas já era, foi... nunca mais na vida... a única coisa que volta... é o rock and witchos!
aah,mas que pique!
depois que eu vou dormir,nem atender o celular consigo!hahaha
abraços!
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