"Até mesmo o silêncio é um texto."

domingo, 28 de dezembro de 2008

Rave.

- Gian Marelli! - exclamou o professor louco de português, enquanto ia entregando os trabalhos para os alunos que já haviam sido chamados e iam até a mesa dele para pegá-los. Levantei e caminhei tranqüilo até a sua mesa.

Peguei a folha. Ele disse, sorrindo:

- Muito bom, Gian!

Olhei para ele, sorri com modéstia.

- Obrigado.

- Muito bom, legal mesmo cara! - ele enfatizou.

Mantive o sorriso. Olhei para a classe: mais ou menos trinta alunos me fitando. Uns sorriam, outros estavam sérios. Reconhecimento. Admiração.

- Obrigado!

E caminhei até o meu lugar, o peito inflado. O sorriso simples, mas completo.

“Desta vez era para ir à uma rave em Lomba Grande, e eu nunca havia estado em uma rave.

Eram conhecidas de não-sei-quem e estavam ali para ir pro mesmo lugar que nós. Depois de mais duas cervejas ouvindo aquele papinho, embarquei no carro e partimos.

(A última frase foi sublinhada em vermelho pelo professor. Do lado esquerdo da margem estava escrito, no mesmo vermelho: “muito bom”!

“Acabaram os cigarros e o sono veio até mim com aquela conversinha agradável e relaxante.

Convenci-os a ir embora e, pisando na lama, fomos para o carro.

Entretanto, eu desconfiava que talvez não viesse a cumprir a promessa”.


11/11/08

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

On the road.

Estava no banco do carona dormindo um sono profundo, quando acordei de sobressalto com um estouro. Olhei reto para frente, sem mirar em nada. O carro andava de lado e dos pneus saíam aqueles gritos agudos que precedem uma batida e sons de vidros quebrados. Estava claro e chovia. Com o rabo do olho, vi o Rato girando o volante para cá e para lá, como um gesto autômato que não surtia efeito algum. Fiquei estático, esperando pela colisão. O veículo continuou deslizando e foi perdendo velocidade, até que parou com um encostão da traseira do lado direito no muro de concreto do lado do acostamento. Para além do muro, um barranco sem fim, tomado pelo mato verde. O carro parou estacionado no acostamento, e um caminhão veloz passou pela estrada. Na minha cabeça, já se desenhava aquela lista básica que eu tinha que fazer quando chegava um Siena com a traseira direita batida: ”Sinaleira lado direito, três lâmpadas, pára-choque, suporte do pára-choque lado direito, recuperação da tampa traseira e lateral...”.
Virei meu rosto sonolento para o Rato, e o vi olhando reto, sem expressão e talvez até mostrando certa palidez. “Vamos lá ver o que deu...”, eu falei, já abrindo a porta. Ele tirou os pés dos pedais. O carro pulou para frente e apagou. Descemos e fomos lá para trás, enquanto o Morris acordava se perguntando o que tinha acontecido.
Para minha enorme surpresa, apenas um arranhão de um palmo no friso do pára-choque. Fiquei boquiaberto e ponderei se não existia mesmo um deus em algum lugar. Rimos e voltamos para dentro e explicamos para o Morris. Ele tinha despertado porque batera a cabeça na porta. O Rato retomou a direção, muito mais cauteloso, é claro. Tentei voltara àquele sono profundo, mas, agora, eu despertava a cada freada ou curva.

13/09/2008

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Presidente.

Tudo estava arranjado mais ou menos como sempre, através dos emails enviados na tarde daquela sexta-feira de pouco trabalho. Os bruxos viriam me dar carona (e algo mais, se eles quisessem), mas, em uma ligação de última hora, minha namorada resolveu vir de carro e também me dar carona. Maravilha! Muitas caronas para mim!

Eu estava tranqüilo, ouvindo o som dos Scorpions e esperando todo o pessoal chegar, mas o tempo foi passando e passava já de meia noite e fiquei meio preocupado. Entretanto, um quarto depois da meia noite o Gugu e o Rato chegaram. Eles entraram e a gente então abriu um conhaque Presidente. Tragamos e, embora eles não gostassem muito, eu adorei. O cheiro forte do conhaque e a sensação de queima total no interior da boca faziam eu me sentir um homem. Acho que emborcamos uns três copos ali, e eu lembro bem do Rato dizendo: “esse conhaque vai me fazer mal...”.

Estávamos ao redor da mesa, rindo e esperando, quando eu ouvi um ronco estrondoso de motor dobrando a esquina, três casas à esquerda, exatamente como fazia a Ducato à diesel que me levava pra faculdade durante a semana. O ronco parou diante da minha casa, e eu percebi que era o chevetão da minha namorada. Sorri de felicidade e fui abrir o portão. Meus braços coçavam de vontade de abraçá-la bem forte e apertá-la contra o meu peito e beijar-lhe o rosto fresco, enquanto ela corria apressada para chegar até o portão, debaixo da chuva fina que caía calmamente. Ela finalmente chegou e eu fiz tudo o que ansiava fazer. O meu sorriso denunciava meu pleno estado de espírito.

Ficamos por ali um pouco, esperando não sei o quê e olhando besteirinhas no computador. De repente, muito de repente, mamãe chegou do casamento junto com o padrasto e o Néni. Não os esperava por ali tão cedo, tanto que pedi carona porque achava que não ia ter o carro naquela noite. Eles entraram, e eu nem fiz menção de tirar a garrafa de conhaque de cima da mesa. Eu sabia que não tinha problema.

Mamãe entrou e disse:

- Crianças, que frio, não querem tomar alguma coisa quente?

- Não, mãe, a gente ta tomando uma coisa que não é quente, mas ta esquentando igual. - foi alguma coisa assim que eu disse.

O padrasto entrou também e falou mais alguma piadinha desse tipo e todo mundo estava rindo. E a garrafa de conhaque ali.

Não tendo muito mais o que fazer, a gente foi para o Rock. O frio tinha espantado muita gente de lá, e dava para caminhar tranqüilo e logo a gente achou uma mesa de sinuca e logo também o Rato achou uma caipirinha.

Acabou aquela caipirinha e o Gugu já achou mais outra e assim foi indo e uma hora eu vi duas caipirinhas bem cheias em cima da mesa. Àquela altura eu já estava vermelhinho, assim como o Gugu e a gente já estava gritando muito alto, enquanto fazia alguma coisa que parecia um jogo de sinuca numa das mesas bem do meio. O pessoal ao redor já olhava para nós ali, gritando, e o Gugu já interagia com um magrão de dreadlocks, que também estava muito animado com seu copo de cerveja na mão. Eu olhava de relance para Carina e ríamos da situação.

De repente, demos falta do Rato, e acabamos por vê-lo lá no balcão, conversando com uma guria de nariz enorme que a gente já tinha visto por ali várias vezes. Ele estava com um copo de caipira na mão. O Gugu gritou algumas coisas pra ele, muito alto, que todo mundo no bar deve ter ouvido, mesmo tendo uma voz e um violão ocupando todo o ambiente.

Conversamos e jogamos e bebemos e gritamos e vimos o Rato abraçado, muito abraçado com aquela menina que a gente chamava de brinquedinho, da qual a gente não gostava com que ele se envolvesse. E outro copotro io na mão.

O Gugu gritou muito mais dessa vez e eu ria e olhava para a minha namorada super-gostosa e via ela rindo também e ela ficava mil vezes mais linda quando ria e eu agarrava ela com meus braços e a gente se beijava. Depois de um desses beijos loucos e gostosos, sentei-me numa das cadeiras ali ao redor da mesa de sinuca. O Gugu, eufórico e bem vermelho, veio por cima de mim dar um daqueles abraços lindos que nos damos uns nos outros. Contudo, aquele não era o momento apropriado. Defendi minhas partes baixas com o braço e falei, enquanto ele estava agarrado em mim:

- Gugu, cuida que eu to em posição de ataque...

Ele deu um grito e um salto, e eu tive que rir. A Carina fez uma cara estranha, mas depois riu.


Estávamos todos ali, ao redor da mesa, curtindo o som do violão que tocava lá no palquinho e gritando por “cachorro louco” no intervalo das músicas. Começou a tocar aquela outra do TNT que diz que “eu só quero paz” e a gente cantou também e eu estava muito feliz e alto e todos nós estávamos, exceto Carina, que não estava bebendo daquelas caipirinhas divinas do inferno. Mas eu tenho certeza que ela também estava curtindo com todo nosso alto astral alcoólico. Eu era o dono do mundo: tinha a mulher a quem amava de um lado, e os bruxos loucos de outro. Eu não podia estar mais feliz!

O violeiro tocou alguns lixos pop e até aqueles ridículos samba-rock, que eu o Rato cantamos por pura ironia. “Burguesinha, burguesinha...”. No fim de todas músicas, gritávamos por Cachorro Louco.

Então, como destino inevitável, começou a tocar Cachorro Louco. O Gugu ficou lá do outro lado da mesa, curtindo tudo e gritando as estrofes, bem como, do lado de cá, fazíamos eu e o Rato. Nossos tacos de sinuca viraram guitarras enormes que sempre faziam os acordes corretos. A gente vibrava e batia com o pé no chão no compasso da bateria que só existia em nossas mentes. Nos olhávamos e gritávamos juntos no maior volume que as cordas vocais não conseguiam fornecer. Parecia que o céu e o inferno tinham se misturado ali, e só as partes boas de cada lugar tinham ficado.

A música terminou e a gente gritou muito em reverência ao violeiro que acabava de nos proporcionar aquele momento. Depois eu falei alguma coisa pro rato, com a minha voz que já quase não existia. Eu lembro que ele tinha um copo nas mãos...

Fiquei então conversando com a minha namorada super-linda. Eu gostava de conversar com ela, ainda mais abraçadinho e falando no pé do ouvido e rindo. Quando vi, o rato estava sentado cabisbaixo, sem se mover. Ele estava mau. Olhei novamente e o vi mexer com um dos copos vazios de caipira que estavam em cima da mesa. Foi aproximando o copo da boca, sem tirá-lo da superfície da mesa, debruçado sobre ela. Foi e foi e ele vomitou espuma branca dentro do copo. Ele estava muito mau. Nunca tinha visto ele assim, e então fiquei um pouco preocupado, mas sabia que ele ia vomitar e então tudo ia ficar bem depois.

Só que não melhorou nada. Pelo contrário, piorou. Depois de algum tempo entretido com o Gugu e a Carina, depois mesmo de o Gugu sentar sobre a cabeça do Rato, o enxerguei vomitando no próprio chão do bar. Aquilo era grave. Ele já não tinha controle sobre si mesmo.

Um dos donos do bar veio e, em risos, colocou jornal sobre aquele vômito. O Rato, por sua vez, vomitou mais em cima do jornal. Quando o Gugu me confessou que ficava tonto no momento em que fechava os olhos, resolvemos ir embora. Pagamos nossas comandas e voltamos para carregar o bruxo que não conseguia sequer erguer-se sozinho. Na saída, na hora de entregar os papéis carimbados, fomos barrados, pois o do Rato não estava pago. Marcava ainda uma caipira. Foi o Gugu que procurou a carteira nos bolsos dele, encontrou e foi pagar. Fiquei segurando aquele corpo inerte. De repente, ouvi o Gugu me chamando. Olhei pra trás e o vi rindo bastante, me mostrando a carteira do Rato aberta, sem nenhum centavo dentro. Pagou com o próprio dinheiro, e então veio me ajudar a levá-lo para o carro.

Carregamos todo aquele corpo sob a chuva que ainda caía insistente. Conseguimos enfiá-lo dentro do carro e combinamos de eu ajudar a carregá-lo pra dentro de casa também. Eu e Carina nos dirigimos para o carro dela.

O chevetão demorou a arrancar, o chevetão estava muito teimoso. Talvez fosse o frio. Quando finalmente chegamos na casa do Rato, o Gugu já tinha feito o serviço de carregá-lo para dentro, e o portão estava fechado. Mesmo com um pouco de culpa, eu e Carina não resistimos e aproveitamos aquele tempo sozinhos. Quando o Gugu desceu de lá do apartamento, saí do carro e fui falar com ele.

- Acordei todo mundo... - ele falou, e contou mais detalhes e terminou: “Quando eu tava saindo o Rato disse: tchau Guguuuu...”.

Eu ri muito e o Gugu também. Então nos despedimos, e cada um foi para o seu lado. Posso dizer que o meu era o lado melhor, já que Carina me esperava no carro, com toda sua beleza e perfume e tudo o mais.



No outro dia, à tarde, quase noite, depois de eu ter ligado para casa dele e ter verificado que tudo andava bem, o Rato veio me dizer, através das letras do MSN:

- Gian! Gian! Já sei de quem é a culpa de tudo o que aconteceu ontem!

- De quem?

- A culpa é do Presidente!!!


06/09/2008.

domingo, 9 de novembro de 2008

Dois anos.

Pois é, cara...
O tempo passou mais uma vez, mas não podemos mais vê-lo descrito com palavras.
Dois anos de blog e toda velharia foi apagada, foi sim. Talvez porque um ciclo se tenha fechado. Um grande ciclo se encerra, deixando no passado todas as alegrias e algumas aflições. Entretanto você e eu sabemos que a maioria das aflições permanecerá num canto obscuro, regressando quando ficamos desarmados e suscetíveis. Com as alegrias acontece da mesma forma, e são elas que trazem as tristezas, na verdade.
Mas não adianta, o mundo continuará girando. Todos correndo atrás de coisas que ainda não conseguiram encontrar, já que a vida é essa corrida mesmo. A vida é um conjunto infinito de corridas, no ponto em que uma termina, começa outra, e assim até o fim supremo.
Por isso, apago a luz e fecho a porta, pois já há outra sala ali do lado que precisa ser aberta e iluminada.

Eu fecho, mas não tranco.


Todas as voltas que se dão numa vida
Apenas iluminam um único objetivo
A entrada é no mesmo lugar da saída
Há pra tudo isso um adjetivo
Mas eu não saberia.

09/11/08

sábado, 10 de maio de 2008

Um ano.

Deu um estalo no meu cerébro e eu me toquei que esse blog fez um ano esse mês.
Nunca pensei que duraria.

Estou sinceramente feliz.

Lá no meu primeiro post de todos os tempos têm uma frase que eu tinha recém lido e já tinha esquecido: "Não chame de honesto aquele que nunca teve a oportunidade de roubar". Que bom que eu voltei atrás e li de novo. Como é bom voltar e reler tudo e relembrar de tudo!

27/10/2007

domingo, 27 de abril de 2008

We will rise again.

Angels on fire, they fall from the sky.
Heaven and hell will be burning tonight.